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Estudo aponta o plástico como maior vilão do lixo em praias da Bahia

Por Felipe Moraes 

Um estudo conduzido por um grupo de pesquisadores de três universidades brasileiras, sendo duas baianas, analisou 5.144 amostras de lixo coletados em um período de dois anos nas águas marinhas de Porto Seguro, Santa Cruz Cabrália e Ilha de Itaparica. Foi apontada a presença de nove categorias de detritos de origem doméstica e comercial, sendo o plástico a categoria dominante em todas as praias estudadas, representando 94,2% do total de resíduos coletados. Isso quer dizer que, de cada 20 fragmentos de lixo encontradas nessas praias, 19 são pedaços de plástico. 

“Não há uma medida para que se possa quantificar se essa quantidade de lixo [coletada] é grande ou pequena, mas, por se tratar de um tipo de poluição, qualquer quantidade é muita”, explica o biólogo Leonardo Evangelista Moraes, professor da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e um dos orientadores do estudo. 

Foram identificados 4.123 materiais na Área A (Ilha de Itaparica) e 1.021 na Área B (Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália). A categoria menos abundante foram os materiais de maior densidade, como vidros e metais, seguidos pelo nylon e isopor, utilizados nas atividades pesqueiras. Em ambas as localidades, a origem do material é predominantemente doméstica (embalagens de alimentos, materiais de limpeza e higiene pessoal etc.) e comercial (produtos plásticos descartáveis, como copos, pratos e talheres, entre outros). 

Uma das maiores preocupações dos cientistas é em relação ao microplástico, partículas microscópicas que surgem, por exemplo, no processo de decomposição dos materiais plásticos. Em pesquisas recentes, segundo Moraes, foi encontrada presença desse material em alimentos, na corrente sanguínea, tecidos e até mesmo nas fezes humanas. “Um pedaço de sacola plástica, por exemplo, quando entra em decomposição, ela se transforma em inúmeros outros pedaços, e alguns desses pedaços são tão pequenos que podem passar até mesmo pelo controle de qualidade da produção do sal de cozinha e parar na nossa mesa”, afirma o pesquisador. 

Não há pesquisas que determinem com exatidão o período de decomposição do plástico, em função de fatores como a composição química de cada plástico ou a influência do ambiente. No entanto, cientistas acreditam que alguns plásticos, como as sacolas de supermercado, por exemplo, podem demorar centenas de anos para se desfazer no ambiente. 

Apesar de um dos locais da pesquisa ser próximo ao Parque Nacional Marinho dos Abrolhos, região de maior biodiversidade marinha em todo o Oceano Atlântico Sul, o cientista explica que nessas regiões mais distantes a quantidade de lixo aparenta ser menor, principalmente no parque, onde a pesca e as atividades turísticas são regulamentadas, o que também diminui os resíduos dessas atividades. Ele faz, contudo, outro alerta: “Os peixes estão transitando. Nesse sentido, se ele consome um material plástico aqui [na costa de Porto Seguro], por exemplo, ele pode ser comido por outro peixe maior lá em Abrolhos, incorporando esse resíduo na teia trópica [cadeia alimentar] de lá”. 

Segundo ele, os impactos no ecossistema marinho devido à presença do lixo vão desde a degradação da saúde desse ecossistema até a destruição do patrimônio natural. “Se as pessoas se incomodam com as algas que ficam na areia da praia, imagina se fosse lixo”, diz. De acordo com dados do Fórum Mundial de Davos, se nada for feito, em 2050, a tendência é de haver mais plástico do que peixes no oceano. 

Além de Moraes, também participaram do estudo os pesquisadores Stefânia Pereira Santos, da Universidade Federal de Santa Cruz (UESC), e Fábio Lameiro Rodrigues, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 

Ao ser questionado sobre o que pode ser feito para diminuir a quantidade de plástico no meio ambiente, Moraes diz ser “necessário [haver] leis e políticas públicas mais atuantes e integradas”: “Não adianta Porto Seguro fazer sua parte se Eunápolis não fizer; ou todo mundo faz, ou o problema continuará”.

Para ele, são necessárias ações articuladas de conscientização e alternativas para o uso do plástico. “As leis são importantes, mas o problema não é só o canudo, as sacolas plásticas são muito piores, por exemplo”, afirma o pesquisador. 

“É uma questão de gestão pública”, complementa, referindo-se a uma série de políticas que o poder público deve adotar para diminuir a quantidade de lixo marinho, que vão desde a conscientização da população pela revisão dos hábitos de consumo até a destinação final do lixo em locais adequados. 

Em fase final de revisão, os resultados do estudo serão divulgados em breve por meio da publicação de um artigo científico.

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