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Pesquisa mostra que fauna selvagem resiste na região

Por Caio Gabrig Turbay

Uma pesquisa inédita, em fragmentos de florestas no sul da Bahia, mostrou que, mesmo com a destruição ambiental existente, a região ainda possui uma fauna de mamíferos considerada riquíssima pelos especialistas. Os resultados publicados em 2021 indicaram que as matas baianas ainda guardam um número grande de animais de médio e grande porte. O projeto é realizado por uma rede de pesquisa no Brasil e inclui professores e pesquisadores da UFSB. A partir de visitas nas matas, ou usando câmeras fotográficas acionadas pelo calor do corpo dos animais, os cientistas conseguiram obter as imagens e também fazer o registro das espécies. O grupo espera que o projeto desenvolva novas estratégias de preservação para a fauna da região.

A contribuição da UFSB à pesquisa é feita pela equipe do Núcleo de Estudos em Agroecologia e Produção Orgânica Pau-Brasil (NEA-PB). A coordenadora do núcleo, Gabriela Narezi, explica que o intuito geral do núcleo é dar suporte às famílias rurais, ensinando práticas agroecológicas. Narezi salienta que muitas das propriedades atendidas pelo núcleo possuem regiões com matas, conhecidas pela lei como áreas de proteção permanente (APP) e reservas legais.

Durante as visitas de apoio às famílias, no âmbito de projeto para o desenvolvimento socioambiental na agricultura familiar, o grupo percebeu a necessidade da realização de levantamentos ambientais, conforme explica Narezi: “Dentro desse diagnóstico, a gente incluiu o monitoramento de fauna, entendendo que a floresta não é só planta. A identificação de espécies de animais que frequentam aquelas áreas é muito importante, até pelo próprio processo de regeneração natural. Então, tem muitas espécies dispersoras de sementes, que são importantes no processo de regeneração. A gente buscou identificar quais eram as espécies que estavam frequentando essas áreas de APP e reservas legais”.

As pesquisas de identificação de fauna promovidas pelo núcleo levaram à parceria com a Rede de Pesquisas do Corredor Central da Mata Atlântica. A Rede procura fortalecer a conexão entre as pequenas florestas existentes na região, os chamados “fragmentos” de Mata Atlântica nos estados da Bahia e Espírito Santo. O objetivo é contribuir para a preservação da fauna e da flora e do seu patrimônio genético. Quando os animais, por exemplo, são impedidos de circular entre os diferentes fragmentos de floresta, várias espécies têm menor possibilidade de reprodução e, com o tempo, essas populações podem diminuir ou até desaparecer.

Os trabalhos no sul da Bahia mostraram que em 72 fragmentos de Mata Atlântica na região, foram encontradas 45 espécies de mamíferos de grande porte, das quais 19 espécies são localmente ameaçadas de extinção. A pesquisa também mostrou que mesmos os fragmentos de mata pequenos e outros que não são protegidos abrigam uma abundância de mamíferos, incluído as espécies ameaçadas. Entre os animais observados, destacam-se a onça-pintada, a onça-parda, veados, capivara, anta e muitas espécies de macacos.

A região sul da Bahia enfrenta o aumento na derrubada de suas florestas. Entre os anos de 1985 e 2015, a Bahia ocupou o terceiro lugar no ranking da derrubada de Mata Atlântica no país, atrás apenas do Rio de Janeiro e Paraná. Segundo a organização não governamental SOS Mata Atlântica, a cobertura florestal atual no estado corresponde apenas a 11% da original. Já o município de Porto Seguro, onde funciona o NEA-PB/UFSB, conta com apenas 30% da sua cobertura original de Mata Atlântica. Isso equivale a quase 74.500 hectares de área desmatada ou quase 100 mil campos de futebol (um hectare é uma área de 10.000 metros quadrados, quase a mesma medida de um campo de futebol). Os fatores responsáveis por essa destruição vão desde a exploração de madeira, nas décadas de 70 e 80, até a abertura de áreas para a agricultura e pecuária. A partir dos anos 90, a rápida expansão das cidades da região, com a consequente especulação imobiliária, tonou-se o principal elemento responsável pela diminuição das florestas.

Apesar deste cenário, os animais permanecem na região e circulam pelos fragmentos de florestas estudados pela equipe. Esses locais formam um mosaico ao qual se ligam importantes áreas de preservação, como o Parque Nacional do Pau Brasil, o Parque Nacional do Descobrimento e o Parque Nacional do Monte Pascoal.

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