Por Thauane Viana Souza
Repleta de belas praias e atravessada em sua região central pelo rio Buranhém, Porto Seguro depende de suas águas para manter-se atrativa para os milhares de turistas que visitam o município anualmente. Mas, como garantir que as águas dos rios e das praias mantêm-se isentas de contaminação? Uma equipe de pesquisa da Universidade Federal do Sul da Bahia está realizando análises químicas de amostras extraídas dos rios de Porto Seguro para averiguar se há componentes indesejados em qualquer quantidade, mesmo que pequena, nos solos, plantas, sedimentos, águas e animais que habitam os rios.
O primeiro passo foi iniciado em 2019. A equipe coletou amostras nos arredores do lixão da cidade, para conferir se os resíduos oriundos do depósito têm afetado a qualidade da água do rio Buranhém. “Fizemos coleta de água, sedimento e solo no rio antes do lixão, viemos descendo e coletamos em frente ao lixão e depois do lixão”, relata o químico Mário Marques Silva Jr., responsável pela pesquisa.
A equipe buscava descobrir se alguma substância química oriunda do lixo podia estar afetando o rio. “Achávamos que não ia haver nenhuma contribuição, pela distância do lixão para o rio, e realmente não há grande contribuição, mas mesmo assim é importante esse tipo de monitoramento, para sabermos se há um risco de contaminação ou não”, conta Silva.
O químico explica que, dentro em breve, os resultados desse estudo e de outros que ainda estão em andamento deverão ser divulgados, por meio de artigos científicos. “Mas, o mais importante é fazer um relatório científico de dados e entregar para os órgãos responsáveis de monitoria”, agrega ele. O pesquisador explica que vários dados já estão sendo compartilhados com a Secretaria do Meio Ambiente do município, que é a encarregada de realizar a fiscalização ambiental. A pesquisa já deu origem, também, a uma dissertação de mestrado, da pesquisadora Thaise Alves dos Santos.
Um exemplo do tipo de contaminação que a pesquisa busca são os metais, como explica Silva: “A gente tem que fazer esse monitoramento de alguns metais porque, a depender da concentração que ele esteja no ambiente, passa de essencial para prejudicial”. “Na química, todo metal é possivelmente tóxico, depende das quantidades que você toma, igual aquela história de que, do remédio pro veneno, a diferença está na dosagem”.
O químico explica que a região precisa investir num monitoramento permanente: “Esse tipo de pesquisa é duradoura, e o monitoramento tem que ser feito de forma constante”. Apesar disso, e do fato de não haver análises similares sendo realizadas na região pelos órgãos públicos ou por empresas, a equipe enfrenta dificuldades para obter recursos para a pesquisa.
A equipe enfrenta desafios como a falta de equipamentos e de recursos para o pagamento de pesquisadores: “Esse tipo de pesquisa é um pouquinho cara e precisa de equipamentos de grande porte, e a gente não tem os equipamentos ainda, por diversos motivos”. Por conta dessa dificuldade, o grupo de pesquisa tem contado com o apoio de outras universidades, como UFBA, UESC e IFBA, entre outras. A falta de equipamentos deixa os trabalhos mais lentos: “Se tivéssemos os equipamentos íamos conseguir coletar as amostras hoje e fazer as análises hoje mesmo, a depender do tipo de amostra”.
Silva é integrante do Grupo de Pesquisa Conservação da Biodiversidade Vegetal e Sustentabilidade (ConserBio – https://sites.google.com/view/conserbio/home?authuser=1). E-mail de contato: conserbiogp@gmail.com