Por Fernanda Macedo
– O Boi Duro de Santo Antônio, uma tradição cultural enraizada em Santa Cruz Cabrália (BA), foi o tema central da dissertação de mestrado recentemente defendida por Cláudio Monteiro Benfica, pesquisador e professor da educação básica em Cabrália. A pesquisa explora como essa manifestação cultural pode contribuir para o ensino de história na região, preservando a memória e a identidade local.
Na avaliação de Benfica, o estudo mostra o potencial do Boi Duro como ferramenta pedagógica, especialmente no que diz respeito à valorização das culturas afro-brasileira e dos povos originários no ensino de História. “Hoje, trabalho com meus alunos tanto nas aulas de Arte quanto em História, dentro do contexto das práticas culturais, fazendo com que eles se sintam pertencentes ao cosmos cultural local”, relata ele.
“É fundamental que os estudantes compreendam que suas ancestralidades — avós, tios, pais — estiveram ou estão diretamente ligadas a esses movimentos culturais. Essa conexão gera um maior engajamento e apreço pelas tradições que os rodeiam”, complementa Benfica, que é professor de História na Escola Municipal Tania Guerrieri, em Cabrália.
O Boi Duro de Santo Antônio é uma manifestação cultural tradicional que faz parte do universo das folias de boi no Brasil. Ele faz parte de um contexto histórico mais amplo, relacionado às festas de boi, que têm origem no sincretismo entre as tradições indígenas, africanas e europeias.
O boi, explica Benfica, representa elementos de resistência cultural e preservação de uma identidade coletiva. Além disso, simboliza um elo entre gerações, passando histórias e valores da comunidade por meio de sua performance e está profundamente conectado às celebrações religiosas e culturais da região, especialmente nas festas de Santo Antônio.
Para o ensino de história, como abordado na dissertação de Benfica, o Boi Duro se torna uma ferramenta viva de educação, aproximando os estudantes de suas próprias raízes culturais e permitindo que a história da região seja ensinada de uma maneira mais prática e envolvente. “Eu busco mostrar que, ao incorporar essa expressão cultural ao currículo escolar, é possível não apenas valorizar os saberes e as memórias locais, mas também promover uma educação étnico-racial mais inclusiva e contextualizada, capaz de desafiar as narrativas eurocêntricas predominantes.”
Benfica realizou entrevistas com moradores e participantes da tradição, além de mergulhar nas festividades, o que lhe permitiu compreender mais profundamente o significado cultural do Boi Duro. “A vivência direta foi essencial para captar os detalhes que não puderam ser vistos de forma distante”, explica.
Além disso, Cláudio planeja expandir sua pesquisa em um projeto de doutorado que investigará as culturas populares e como a inclusão de práticas culturais no ensino pode fortalecer a identidade dos estudantes e promover uma educação mais plural e inclusiva. “Espero que minha pesquisa estimule um modelo de ensino que respeite a diversidade cultural e prepare os alunos para se tornarem cidadãos conscientes e engajados”, conclui o autor da dissertação “Contribuição do Boi Duro nas ensinagens de história em Santa Cruz Cabrália”.
O estudo foi apresentado junto ao Programa de Pós-Graduação em Ensino e Relações Étnico-Raciais (PPGER) em 2024 e pode ser acessado no site da instituição, no seguinte link: https://sig.ufsb.edu.br/sigaa/verArquivo?idArquivo=1033509&key=a6b251de56ccee3b1199d592938c789d.