Por Bianca Barrozo
– As abelhas sem-ferrão desempenham um papel crucial na polinização, mas estão enfrentando uma crise silenciosa que coloca em risco não apenas a biodiversidade local, mas também a saúde dos ecossistemas em uma das regiões mais ricas em diversidade biológica do Brasil, o sul da Bahia.
A bióloga Olívia Maria Pereira Duarte, docente e pesquisadora na Universidade Federal do Sul da Bahia, explica que as abelhas sem-ferrão possuem, na verdade, o ferrão atrofiado e são fundamentais para a polinização de muitas plantas. “Entre 70% e 90% das espécies de plantas em florestas e mais de 60% das culturas agrícolas dependem desse serviço vital”, explica ela. Frutas como melão, abóbora e maracujá, por exemplo, só se formam graças a esse processo.
“Infelizmente, as abelhas sem-ferrão enfrentam ameaças crescentes. O desmatamento, o uso indiscriminado de agroquímicos e as mudanças climáticas estão contribuindo para o declínio acentuado dessas populações. Além disso, a falta de reconhecimento do seu papel essencial na natureza é um fator preocupante”, adverte Olívia.
Outro desafio significativo surge com o comércio de abelhas sem-ferrão, também chamadas de meliponíneos ou abelhas indígenas, que cresceu durante a pandemia. Muitas pessoas se interessaram pela criação dessas abelhas, mas a demanda tem levado ao deslocamento de colônias para áreas fora de seus habitats naturais. “Esse comércio desregulado pode causar a introdução de espécies em novas áreas, resultando em hibridações e diminuição das populações nativas”, explica a pesquisadora.
O Brasil abriga a maior diversidade de abelhas sem-ferrão do mundo, com mais de 400 espécies registradas. No campus Sosígenes Costa, em Porto Seguro, a equipe de Olívia identificou pelo menos 7 a 8 espécies em quatro gêneros diferentes: Trigona, Melipona, Plebeia e Tetragonisca. “Nosso trabalho não visa à produção de mel, mas ao respeito à biologia das abelhas e à promoção da educação científica”, afirma.
Para enfrentar o declínio das abelhas sem-ferrão, Olívia destaca a necessidade urgente de aumentar a conscientização sobre a importância desses polinizadores: “A proteção dessas espécies começa com o reconhecimento do seu papel vital e o engajamento em práticas de conservação que respeitem seus habitats naturais. Apenas por meio de esforços coletivos poderemos garantir um futuro sustentável para essas abelhas e o meio ambiente que delas depende. A proteção das abelhas sem-ferrão é, portanto, uma responsabilidade coletiva, e a conscientização é o primeiro passo para assegurar a sobrevivência dessas espécies essenciais para a biodiversidade e a agricultura”.