Por Jaqueline Silva
— Um estudo realizado pela Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) nas cidades de Teixeira de Freitas e Prado, localizadas no Sul da Bahia, revelou um papel fundamental na promoção de renda, saúde e biodiversidade em quintais produtivos agroecológicos. Foram identificadas 230 espécies vegetais com finalidades frutíferas, medicinais, hortícolas, espirituais e nativas da mata atlântica, bioma em que se encontram as cidades.

Quintais produtivos são áreas cultivadas próximas às casas que são usadas para o plantio de alimentos, ervas, plantas ornamentais e, em alguns casos, para a criação de pequenos animais. Eles variam em tamanho e formato, mas têm em comum o objetivo de aproveitar o espaço de forma eficiente e sustentável. A ideia principal é garantir que cada metro quadrado do quintal seja usado para produzir algo útil para a alimentação e o bem-estar da família.
Os dados foram divulgados no artigo “Quintais Agroecológicos, Soberania Alimentar E Produção De Serviços Ecossistêmicos No Sul Da Bahia, Brasil”, publicado em 2024 pela Revista de Gestão Social e Ambiental – RGSA. A pesquisa avaliou 18 lotes em dois projetos de assentamentos agroecológicos, sendo nove lotes no assentamento Bela Manhã, em Teixeira de Freitas, e nove no assentamento Jacy Rocha, em Prado. Os quintais produtivos foram implementados pela Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto em 2016 e 2017.
O pesquisador Felipe Campelo conta o que o motivou a realização do estudo:
“Minha principal motivação é porque sou assentado da reforma agrária, e no meu lote tem um quintal produtivo, eu percebia muitos benefícios, e quando tomei a decisão de aprofundar um estudo mais científico sobre qual o papel dos quintais, comecei estudar e vi que existe uma gama de elementos importantes, e resolvi fazer meu doutorado nesse tema”.
Conforme mencionado no artigo, “Os assentamentos são de reforma agrária, e as áreas onde foram implementados eram antigas fazendas, que há mais de quatro décadas eram destinadas à pecuária extensiva de gado, muitos dos lotes, se encontravam como pastos compostos, não existindo nenhuma árvore nativa, no momento das divisões. Cada família recebeu 48 mudas nativas e 26 de frutíferas”.


Felipe relata o que mais chamou sua atenção durante a coleta de dados: “a quantidade e diversidade de espécies de planta encontradas, um outro elemento que me chamou atenção como resultado foi a renda que um quintal produtivo gera”, afirma
Foram encontrados 15 serviços ecossistêmicos: melhoria na alimentação, suprimento de adubo, suprimento de lenha, suprimento das plantas medicinais, melhoria na renda, diminuição da temperatura, manutenção da água no solo, diminuição de pragas e doenças, proteção contra o vento, melhoria do solo, aumento do número de pássaros, local para lazer, embelezamento, local de aprendizados dos filhos e local para atividades espirituais.
Nas práticas agrícolas são usados os manejos agroecológicos. A adubação é orgânica (folhas, esterco de galinha e gado) e apenas uma família compra fosfato reativo na cidade. No controle do mato é usada a capina manual, ou algum tipo de maquinário (trator, roçadeira costal ou tratorito) e apenas uma família usa herbicida. No controle de pragas e doenças são usadas caldas ecológicas e apenas duas famílias usam agrotóxicos. O preparo da terra é feito com enxadas, tratores e tratoritos.
Os quintais também são fonte de renda e de diversidade alimentar. Foi apurado durante a pesquisa que quarenta e sete por cento dos alimentos consumidos pelas famílias são produzidos nos quintais, e o restante da produção é comercializada. São produzidas diversas espécies frutíferas como: banana, cacau, coco, pitaia, mamão, laranja e abacate.
Felipe falou sobre como funcionam os quintais:
“Através do trabalho familiar, sazonal, usando parte do tempo do trabalho, normalmente executado por mulheres crianças e idosos, são espaços bioculturais, onde se encontram elementos da produção de alimentos, geração de renda e recuperação ambiental, com utilização de vários extratos, médios, altos e baixos, com frutíferas, nativas, ornamentais, plantas medicinais, criação de pequenos animais, plantas espirituais, com espaços de lazer, é um espaço de resistência, um modelo hegemônico de agricultura, que tem a monocultura como base, recuperação da biodiversidade, resgate e conservação genética de plantas e animais”, afirma
A Dona Eulina Rosa, 55 anos, natural de Minas Gerais, atualmente mora em Porto Seguro. Mesmo morando na zona urbana, transformou a área que circunda a sua casa em um quintal produtivo. A diferença é que em seu quintal a produção frutífera, hortícola e medicinal não é comercializada, é para alimentação e cuidado da família. A renda do seu quintal vem da comercialização de orquídeas, bromélias e suculentas, cultivadas em seu quintal. O objetivo inicial era produção de flores e plantas para paisagismo e, ao longo do tempo, Dona Eulina percebeu que no espaço não utilizado poderia produzir espécies frutíferas, hortícolas e ervas medicinais.

“Tenho grande alegria em produzir renda no meu quintal, desde muito jovem sou apaixonada por plantas, o sonho inicial era ter um orquidário, esse sonho se realizou, depois veio as bromélias e suculentas, hoje tenho lindo quintal produtivo que me traz muita alegria”, afirma Dona Eulina