Por Karine Moraes
— Lançado em fevereiro deste ano, o projeto de extensão Formação de Professores no Uso Educacional de Inteligência Artificial, da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), busca capacitar docentes no uso consciente da IA generativa na prática pedagógica. Embora a inteligência artificial tenha o potencial de otimizar o aprendizado, seu uso crescente entre os alunos levanta preocupações como a dependência e o comprometimento do pensamento crítico. Essa dualidade somada à resistência de muitos educadores em utilizá-la em sala de aula, levanta um dos principais desafios atuais: como integrar a IA ao ensino sem comprometer o senso crítico e a autonomia do estudante?
Diante desse cenário, a coordenadora do projeto, Ivana Maria Gamerman, defende um equilíbrio na utilização da IA em sala de aula.
“É importante que os educadores conheçam a potencialidade das várias tecnologias de inteligência artificial pra daí poder criar parâmetros de uso e poder estabelecer e fazer os combinados com os estudantes. Não é toda atividade que se presta ao uso e nem toda atividade que tem que ser isenta do uso. Então é uma questão de bom senso de como utilizar e de combinar isso com os estudantes”, afirmou.
Essa busca pelo uso responsável é compartilhada por Isadora, aluna do curso de Bacharelado Interdisciplinar em Humanidades da UFSB, e integrante do projeto. Ela destaca que a iniciativa busca fazer com que professor e aluno futuramente façam um bom uso dessa tecnologia, utilizando como aliada dentro da sala de aula, trazendo um maior dinamismo. A estudante, no entanto, reconhece as implicações do uso da IA atualmente. “Quando se trata do uso da inteligência artificial na escola, a gente fica muito apreensiva com essa questão do aluno perder a capacidade do senso crítico, de poder estar analisando e debatendo junto com professor”, explica.
Segundo Ivana, a iniciativa surgiu com a percepção de um gap de conhecimento dos professores na possibilidade de um uso ético e responsável da IA, onde se possa qualificar o olhar do educador sobre esse uso, “É um processo constante, essa educação do olhar tanto do professor quanto do estudante é construída conjuntamente, então a ideia do projeto é exatamente criar momentos onde isso seja discutido e construído”.
O projeto, que será ofertado até agosto, tem como público-alvo as escolas do município (três já contatadas) e a UFSB. Inicialmente a universidade teve apenas um encontro dentro do Seminário em Rede, que aconteceu virtualmente de 9 a 12 de junho, para técnicos e docentes interessados. A formação principal será um minicurso online, composto por duas aulas de três horas cada, ministradas quinzenalmente ao longo de um mês. O processo de coleta de dados, que inclui formulários e entrevistas, será totalmente virtual e o material, posteriormente, analisado de forma qualitativa.
No entanto, a iniciativa enfrentou desafios tanto na elaboração quanto na execução. Acompanhar o ritmo acelerado da inteligência artificial, uma tecnologia em constante movimento, foi o principal. “Vimos uma certa dificuldade de fazer o levantamento de tudo que está acontecendo e montar a formação em função disso”, afirmou Ivana. Outro desafio foi a baixa adesão dos professores ao curso, que ficou abaixo do esperado.
Espera-se que, com os resultados, seja possível compreender melhor os desafios e oportunidades envolvidas no uso da IA, buscando contribuir ativamente para o desenvolvimento desse processo.
De acordo com Ivana, a expectativa é de que o projeto seja ampliado para mais colégios de Porto Seguro e também para outros municípios, como Santa Cruz Cabrália e Belmonte, com a finalidade de alcançar mais docentes interessados na formação, além de professores e estudantes das licenciaturas da UFSB.